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quarta-feira, 6 de junho de 2012
"Branca de Neve não é um conto de fadas"
Às vésperas de se despedir da saga Crepúsculo, que a transformou em ídolo das plateias juvenis do mundo inteiro, Kristen Stewart surge como protagonista de um épico que tem toda a pinta de primeiro capítulo de uma nova franquia. A atriz californiana de 22 anos encarna a personagem título de Branca de Neve e o Caçador, de Rupert Sanders, releitura gótica do clássico infantil escrito pelos irmãos Grimm no século XIX, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 1º de junho.
O filme promove uma revisão de valores do conto de fadas original, transformando Branca de Neve em agente de seu próprio destino. Até a história de amor dentro do conto de fadas sobre princesa perseguida pela madrasta má (Charlize Theron) ganha contornos de triângulo amoroso, como em Crepúsculo. “Mas a decisão de fazer novas sequências dependerá da resposta do público”, avisa Kristen, em entrevista concedida no castelo de Arundel, em West Sussex, a duas horas de Londres.
A saga Crepúsculo ainda não terminou e você surge como heroína de uma nova possível franquia épica. O que você viu de especial em Branca de Neve e o Caçador?
Quando criança, não tive qualquer ligação com a história de Branca de Neve. Não é algo que estou tentando redescobrir com esse filme. Mas o vi como uma produção que preenchia um arquétipo feminino, e uma forma de humanizar a personagem também. Eu a construí do zero, em vez de incorporá-la. O filme é fiel ao que Branca de Neve representa, ela ainda tem um jeito compassivo, terreno, mas sem transformá-la em alguma coisa sobrenatural. O mais legal desse filme é que não é um conto de fadas, Branca de Neve nem sempre poderá contar com a sorte, ela tem que botar a mão na massa para construir o seu destino.
A nova Branca de Neve não lava e cozinha para os anões, e vai à luta, literalmente, para recuperar o seu reino. Você diria que é uma versão feminista?
Embora não esteja claro, a época em que se passa essa nova versão da história de Branca de Neve lembra a Idade Média, um período em que atividades consideradas hoje matriarcais, como limpar a casa e cuidar da família, estavam ligadas à mulher. Embora a versão do (diretor) Rupert (Sanders) seja essencialmente a mesma que a criada pelos irmãos Grimm, a gente não vê Branca de Neve fazendo esse tipo de coisa. Mas ela não é puramente uma feminista, ela não é forte e brava porque é como um homem; ela é forte porque é uma mulher, mesmo. É dotada de uma natureza firme, tem uma personalidade constante, não tem temperamento explosivo, não grita ou fala alto, esse tipo de comportamento ao estereótipo feminista.
Como foi dividir o set com Charlize Theron, que interpreta Ravenna, a Rainha Má?
Ela é uma figura maravilhosa. A gente sente a energia dela quando Charlize está por perto. Aceitar fazer um filme é um jogo, nunca sabe com certeza como será o ambiente de trabalho, e no que ele resultará. Charlize era a única coisa sólida, o único bloco de certeza no meio desse projeto todo. Cresci achando Charlize uma atriz corajosa e destemida, ela não faz este ou aquele filme porque quer que os outros a vejam de uma determinada maneira. Ela faz o que dá na cabeça e é muito interessante assisti-la.
No filme, Branca de Neve e a Rainha Má chegam às vias de fato. Você teve receio de ferir um ídolo em cena?
Em nome do realismo, fizemos nosso trabalho a ponto de nos machucarmos. Era para ficar perfeito. Destruí meu polegar, distendi um músculo abaixo da cintura... E Charlize me chamou de Rocky! Eu estava tão obcecada de dar tudo o que eu tinha para o confronto entre Ravenna e Branca de Neve ficar o mais próximo da experiência real que acabei me machucando.
O filme exigiu algum tipo de preparação física?
Bom, eu gosto de correr. Mas sabia que fazer esse filme seria algo pesado, vigoroso, então comecei a malhar um pouco, depois das lições de montaria e das leituras do roteiro. Meu treinador estava me enchendo de socos! (risos) Mas nunca me senti tão preparada para fazer um filme que envolvia sequências de ação. Nunca estive em melhor condição física na minha vida. Cheguei a vencer minha melhor amiga na queda de braço.
Em momentos de confusão mental, Branca de Neve recorre a orações. Você é religiosa?
Não sou religiosa. Mas, definitivamente, converso comigo mesma. Mas não em voz alta, não quero parecer uma maluca. Há momentos em que interpreto determinados acontecimentos como sinais, quando estou prestes a fazer algo importante e não sei qual será o resultado, por exemplo. Nesses dias, quando alguma coisa trivial dá errado, como deixar cair algo no chão, eu praguejo e tenho a nítida impressão de que terei um dia horrível. Conversar comigo mesma é uma forma de colocar energia positiva no mundo. Sou obcecada por isso, em não estragar uma situação. Acho que é o que Branca de Neve faz com suas orações.
O assédio dos fãs da saga Crepúsculo a incomoda? Como lida com esse tipo de fanatismo?
Não saberia dizer... Não penso muito sobre isso. O fato é que consegui compartilhar a experiência desses filmes com milhões de pessoas do mundo inteiro. É uma maluquice, eu sei, mas é uma experiência única, que provavelmente nunca mais vai se repetir. É muito doida, estranha e maravilhosa essa coisa de dividir energia com tantas pessoas. Não sei como essas pessoas me verão depois que a saga acabar.
Filmes pequenos e artesanais, como Na Estrada, dirigido pelo brasileiro Walter Salles, são uma forma de se distanciar da imagem de heroína de superproduções, como a saga Crepúsculo?
É legal oferecer algo novo para o público, diversificar a percepção que a plateia tem de você. Mas adoro Crepúsculo, tenho muito orgulho da saga. Vejo como um grande cumprimento quando um fã chega para mim e diz: “Não consigo vê-la em outro tipo de filme!”. Sei que sempre serei lembrada pela Bela de Crepúsculo. E não é uma coisa ruim. Há lugar para todo tipo de trabalho. Gosto de filmes pequenos também. Não vejo Branca de Neve e o caçador como um filme que possa mostrar que sou capaz de fazer algo diferente de Crepúsculo.
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