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quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Crítica: Elenco é ponto alto em "O Crepúsculo"
Todos os deuses precisam morrer", escreveu o filósofo Nietzsche em 1870; 12 anos depois, ele radicalizaria a sentença: "Deus está morto". Exatamente entre ambas, em 1876, estreou "O Crepúsculo dos Deuses", de Richard Wagner (1813-1883).
Última etapa da tetralogia "O Anel do Nibelungo", "O Crepúsculo" está em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo com direção cênica de André Heller-Lopes e regência de Luiz Fernando Malheiro.
O espetáculo de seis horas mostra a capacidade da direção do Municipal em oferecer à cidade uma temporada exemplar, a despeito das dificuldades de planejamento resultantes do atual momento de transição institucional.
O drama musical narra a morte do herói Siegfried e a derrocada dos deuses em tempos míticos. Tal como havia feito em 2011 com "A Valquíria", o diretor alia a saga germânica a elementos brasileiros inseridos com inteligência e bom gosto.
Espelhos caracterizam a rocha da valquíria, e um gigantesco pano espiralado domina o palácio de Gunther; Alberich (em ótima interpretação de Pepes do Valle) sai de uma assustadora projeção de filmes antigos.
Talvez pudesse haver maior tensão cênica durante o trecho com a presença do coro no segundo ato. Igualmente, o efeito do fogo-água no final parece um tanto confuso.
A orquestra foi conduzida com segurança por Malheiro, apesar de algumas falhas nos metais quebrarem o clima. O desafio foi vencido, mas, em geral, a correção predominou sobre a beleza.
Um dos pontos altos da montagem é a composição do elenco, tanto pela atuação de cada um como pelo equilíbrio e interação entre as vozes.
O baixo Gregory Reinhart foi um inesquecível Hagen, e Denise de Freitas fez uma marcante Waltraute.
Estiveram muito bem os brasileiros Leonardo Neiva e Cláudia Riccittelli (como Gunther e Gutrune) e, na pele de Siegfried, o tenor inglês John Daszak cresceu ao longo do espetáculo.
O museu da Ópera de Viena traz logo na entrada uma foto da soprano Eliane Coelho: há mais de 20 anos como residente da casa, ela interpretou com categoria a valquíria humanizada Brünhilde.
Foi Benedito Nunes (1929-2011) quem disse que "são os homens que salvam Deus". E quando a boca não pode mais orar ainda resta o beijo.
O CREPÚSCULO DOS DEUSES
QUANDO sex., às 18h, dom., às 16h, qui. (23), às 18h, sáb. (25), às 16h
ONDE Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 0/xx/11/3397-0327)
QUANTO de R$ 40 a R$ 100
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO bom
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