sábado, 28 de janeiro de 2012

O crepúsculo do rei

Os olhos do velho senhor não têm brilho. Ele passa horas sentado no quarto ou na sala, com pijama e chinelinho estofado, entre cochilos, divagações e, às vezes, resmungos. Deve pensar onde errou. Difícil dizer. Pela minha forma de ver a vida, ele fez tudo errado. Passou por cima de muita gente, criou uma máquina de dinheiro, com métodos nada convencionais, que lhe trouxe poder, soberba e temor dos inimigos, que, no entanto, estavam ao lado dele, o tempo todo, sem que desconfiasse. Num ambiente onde não há ética, respeito, solidariedade, e somente o dinheiro vale, é muito normal que os adversários se aproximem, aguardando o momento do bote fatal. E o golpe contra ele, foi mesmo mortal. Esse senhorzinho, que hoje vive quase solitário, não recebe visitas, perdeu todo glamour e encanto, depois de ter tanta gente lhe lambendo as botas, por muitos anos, é Eduardo Farah. O ex-presidente da Federação Paulista de Futebol faz, hoje, três hemodiálises por semana. A rotina de sofrimento difere totalmente dos dias de glória, onde caravanas de presidentes de grandes e pequenos clubes cercavam sua sala, em busca de benesses e favores, e seu grito significava desespero para todos. Farah teve que sair do cargo para amainar uma investigação da Receita Federal. Queria passar o poder para José Reinaldo, em quem ele confiava. Mas o estatuto dava o comando a Marco Polo Del Nero. Como Farah ainda tinha voz forte, Del Nero prometeu-lhe tudo. Até permanência na mesma sala, motorista, salário régio etc. Aos poucos foi cortando tudo. Até que Farah sumiu, enquanto José Reinaldo se aliava a Del Nero. Durante algum tempo ainda falou-se dele. Hoje, ninguém pergunta mais. As botas a serem lambidas são de Del Nero, e os serviçais fazem isso com a mesma maestria exigida, tempos atrás, por Farah. O reino continua de pé. Agora os gritos do nosso monarca é que assustam. O velho rei vive seu crepúsculo, quase anonimo. Raríssimas visitas e a luta pela volta da saúde é tão difícil, ou até mais, do que o retorno aos dias magistrais. Assim é a vida. Não há reinado eterno, para ninguém. Mas você pode fazer o bem enquanto reina, ou criar cobras, que, em algum momento, vão lhe picar. Farah não deixa nenhuma saudade no mundo da bola. Del Nero segue fazendo o que ele fazia. Com aprimoramentos, é claro.

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